Armarinhos Eliane

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Jovem é mantida em cárcere privado por 15 anos: não sabia data de aniversário, nenhuma visita ao médico e proibida de ter amigos

 

A jovem contou que ainda não teve tempo de sonhar, não sabe o que quer fazer futuramente, mas planeja voltar logo à escola e viver próximo das pessoas que ama: seus pais, irmãos e o namorado.


Janaína dos Santos, 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário, nunca foi ao médico quando sentia dor nem podia ter amigos ou sair de casa quando quisesse. — Foto: TV Clube / G1


Janaína dos Santos, 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário, nunca foi ao médico quando sentia dor nem podia ter amigos ou sair de casa quando quisesse. A jovem foi mantida em situação análoga à de escravidão, em cárcere privado e apanhava quase diariamente durante 15 anos. A madrinha da jovem, Danielly Medeiros, está presa temporariamente pelos crimes.

A jovem foi tirada de casa aos 12 anos durante um feriado da Semana Santa, inicialmente, apenas para passar alguns dias com a madrinha em Teresina.

Ela vivia com os pais e seis irmãos mais novos na cidade de Chapadinha, no Maranhão, para onde nunca mais voltou. Começou então uma rotina de escravidão, agressões, ameaças e perda de qualquer liberdade.

Sem saber data de aniversário, nenhuma visita ao médico e proibida de ter amigos: a vida da jovem mantida em cárcere por 15 anos em Teresina

Janaína dos Santos, 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário, nunca foi ao médico quando sentia dor nem podia ter amigos ou sair de casa quando quisesse. A jovem foi mantida em situação análoga à de escravidão, em cárcere privado e apanhava quase diariamente durante 15 anos. A madrinha da jovem, Danielly Medeiros, está presa temporariamente pelos crimes.



Ela vivia com os pais e seis irmãos mais novos na cidade de Chapadinha, no Maranhão, para onde nunca mais voltou. Começou então uma rotina de escravidão, agressões, ameaças e perda de qualquer liberdade.

Sem salário, sem estudos e sem liberdade


Janaína estudava enquanto vivia na casa dos pais, mas desde que veio para Teresina nunca mais foi à escola, não aprendeu a ler e escrever nem teve qualquer convivência com outras crianças ou adolescentes. Ela contou que era impedida de sair de casa e fazer amizades e era obrigada a realizar todas as tarefas domésticas na casa de Danielly, sem qualquer remuneração.

"Nunca recebi salário, sempre vivi sem ajuda, nem pra comprar roupa, ela não me pagava um centavo. [Para comprar produtos de higiene pessoal] eu pedia ao companheiro dela, ele me dava dinheiro pra eu comprar. Eu recebia tudo usado, ela só me dava quando não prestava mais", contou Janaína.

O clima na casa, que fica no bairro Ilhotas, Centro/Sul da capital, era sempre ruim e pesado, segundo Janaína, porque havia muitas brigas entre o casal. As agressões, físicas, verbais e psicológicas contra ela também eram frequentes. Segundo ela, apenas Danielly a agredia.

Segundo ela, o que ela fazia em casa nunca estava bom. Ela era sempre tratada como preguiçosa e, quando a dona da casa não estava satisfeita, a agredia.

"Ontem mesmo ela falou tanto nome que doeu meu coração, e eu nunca respondia ela, ela me xingava, mas eu não xingava, não dizia nada. Eu não tinha amigos, não podia sair, a última vez que saí foi segunda-feira, mas ela tomou minha chave, me punia. Eu só saía pra comprar coisas e voltar pra casa. Eu sentia tristeza, chorava sozinha, não gostava da minha vida. Pedia a Deus que me tirasse dali", contou.

Entre as violências, ela também não podia sair sequer para ter acompanhamento médico quando precisava e nunca realizou consultas ginecológicas. Ela contou que nunca foi a um hospital, mesmo quando sofreu com crises de cólica renal, que causam dores intensas.

"Ela me dava uma dipirona pra eu me sentir bem, mas no médico nunca fui", disse Janaína.

Tentativas de fuga e ameaças

A jovem contou que tentou escapar algumas vezes, mas tinha muito medo de ser morta pela patroa e sempre era impedida. A última vez, na segunda-feira, ela chegou a juntar alguns pertences pessoais para tentar fugir, mas não conseguiu deixar a casa. Por conta disso, foi gravemente ameaçada de ter seu coração arrancado.

"O pior dia foi na segunda-feira, quando ela ameaçou arrancar meu coração, ela quebrou um casco de cerveja, chegou bem perto de mim, e disse que ia tirar meu coração", descreveu.

Mãe não sabia onde filha morava

A mãe, Maria do Socorro, é prima e comadre da suspeita dos crimes contra Janaína. Ela contou que durante os 15 anos em que a filha foi mantida em cárcere, tentou contato com a jovem, mas sempre era impedida.

"Eu tentei contato direto, meu 'sentido' sempre estava na menina. Eu ia comer, lembrava dela, não comia mais. Sempre sem saber se ela estava bem, se estava comendo, se estava bebendo. Tentei saber o endereço onde ela morava em Teresina, mas não me diziam", disse ela.
Janaína dos Santos, 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário, nunca foi ao médico quando sentia dor nem podia ter amigos ou sair de casa quando quisesse. — Foto: TV Clube



Namorado procurou a família e a polícia

Ela ainda não sabia, mas no dia seguinte, terça (23), seria resgatada. O namorado, o mecânico Osmar Rodrigues, 58 anos, foi o "anjo da guarda" de Janaína. Eles se conheciam havia apenas dois meses, mas ele percebeu a situação em que ela vivia e procurou a polícia. Inicialmente, Janaína não contou sua realidade completa a ele, mas depois acabou revelando.

Janaína mal saía da casa onde era mantida em cárcere, mas deixava o local em alguns momentos, quando precisava levar a criança da qual cuidava para sessões de tratamento e para a escola, já que o menino tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).

"Ela [vítima] levava o menino caminhando, porque mora nas proximidades de onde ele fazia o tratamento. Foi nesse trajeto que ela conheceu o namorado, eles começaram a conversar e ele teve acesso à situação como ela vivia. Ele foi como um anjo da guarda na vida dela, começou a gostar dela, e ela contou a situação em que vivia", contou Eliana Leal, advogada da família de Janaína.

O namorado buscou então a família de Janaína no Maranhão e, juntos, fizeram a denúncia à polícia, que resgatou a jovem na terça (23).

A advogada disse que depois de perceber que a namorada era mantida em cárcere, ele tomou a iniciativa de denunciar.

"Eles tiveram um namoro rápido [cerca de dois meses], e ele deu um celular pra ela, porque ele não conseguia falar com ela de outra forma. Quando a Danielly viu, tomou o aparelho, obrigou a vítima a ir à casa do namorado devolver. Ela [Danielly] ameaçou pra ele não procurar ela. Quando ele não teve mais contato, ele começou a buscar ajuda", relatou a advogada.

Sem estudos, agredida e ameaçada

A vítima, segundo ela, está muito traumatizada, é analfabeta porque nunca teve a oportunidade de estudar e tinha muito medo de ser morta. Ela contou que a mulher tem marcas por todo o corpo de agressões como arranhões e hematomas.

Além disso, a situação em que vivia a impediu de desenvolver habilidades sociais, por isso não tinha desenvoltura para conversar e contar o que estava acontecendo ou buscar ajuda. Ela vivia ainda sob constantes ameaças de morte, além das graves agressões.

Ela era obrigada a trabalhar sem descanso, todos os dias da semana, realizando serviços domésticos, sem direito a férias ou qualquer outro direito trabalhista. A defesa da vítima vai buscar reparação trabalhista e moral.

"Vamos buscar os direitos dela na Justiça, já que a questão criminal já está em andamento com o inquérito policial. A suspeita está presa temporariamente e logo deve ser solicitada a prisão preventiva. Vamos pedir indenização por danos morais, por todo o trauma causado, as ameaças, os anos de vida e convivência com a família que lhe foram tirados. Além dos direitos trabalhistas dos últimos cinco anos [conforme prazo de prescrição previsto em lei], como salário, férias e 13º", explicou a advogada.

A jovem contou que, agora, a vontade que tem é de voltar a estudar.

Quem é a suspeita



Francisca Danielly Mesquita Medeiros, suspeita de manter a própria afilhada em cárcere privado e situação análoga à escravidão por 15 anos, é servidora pública, empresária e já foi candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018. — Foto: TV Clube


"Vamos buscar os direitos dela na Justiça, já que a questão criminal já está em andamento com o inquérito policial. A suspeita está presa temporariamente e logo deve ser solicitada a prisão preventiva. Vamos pedir indenização por danos morais, por todo o trauma causado, as ameaças, os anos de vida e convivência com a família que lhe foram tirados. Além dos direitos trabalhistas dos últimos cinco anos [conforme prazo de prescrição previsto em lei], como salário, férias e 13º", explicou a advogada.

A jovem contou que, agora, a vontade que tem é de voltar a estudar.


A mulher foi presa em decorrência de um mandado de prisão temporária. Procurado pelo g1, a defesa de Danielly afirmou que não irá se manifestar sobre o assunto.

Entenda o caso

A jovem foi resgatada na terça-feira (23) pela Polícia Civil após ser mantida em cárcere privado e em situação análoga à escravidão por 15 anos em uma residência no bairro Ilhotas, Zona Sul de Teresina.

O delegado Odilo Sena, responsável pela investigação do caso, informou que a vítima era submetida a trabalho análogo à escravidão desde os 12 anos, quando ela foi entregue pelos pais para passar alguns dias com Francisca Danielly que, além de madrinha da vítima, é prima da mãe dela. Anteriormente, a jovem residia com a família no município de Chapadinha (MA).

Segundo a vítima, ela era agredida por Francisca, sendo obrigada a limpar a casa e a cuidar dos dois filhos da suspeita. Após ser resgatada, a jovem reencontrou a sua mãe depois de 15 anos sem vê-la. A mãe também era ameaçada para que não procurasse a filha.

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